“Cartas a uma Ditadura”

de Inês de Medeiros

Teatro da Cerca de São Bernardo

21h30

Entrada 3,00 €

Uma centena de cartas, escritas por mulheres portuguesas, em 1958, foram encontradas por acaso num alfarrabista que não as leu por achar que eram cartas de amor.

Respondem a uma circular enviada por um misterioso movimento de apoio à ditadura do qual não há referência nos livros de história. A circular a que respondiam nunca chegou a ser encontrada mas, pelas cartas que temos em mãos, percebe-se que era um convite para que as mulheres se mobilizassem em nome da paz, da ordem, e sobretudo em defesa do salvador da pátria: Salazar. Em todas as cartas, estas mulheres falam da gratidão e da admiração que têm pelo ditador.

Mas, como se a necessidade de falar fosse mais forte, por entre chavões e frases feitas, surgem por vezes o medo, a tristeza, o isolamento em que se vivia em Portugal nos anos 50. Uma costureira, muitas professoras primárias, donas de casa, algumas esposas de homens importantes do regime assinam as cartas.

Ao confrontar, hoje, estas mulheres com os fantasmas do passado, e graças a um material de arquivo inédito, Cartas a uma Ditadura é um mergulho perturbador no obscurantismo que dominou Portugal por mais de 50 anos.

“Documentário de Inês Medeiros que revisita a memória dos anos do salazarismo através do olhar e testemunho de várias mulheres, de diversos extractos sociais, que, em 1958, foram convidadas a manifestar o seu apoio a Salazar, em cartas laudatórias, a pretexto da primeira crise que abalou a ditadura, aquando da campanha do General Humberto Delgado. Desde as mais fervorosas defensoras do ditador até às mais comedidas ou simples, em quem a propaganda surtia outro tipo de efeito, “Cartas a uma Ditadura”** desmonta o regime e as suas estratégias de perpetuação*.“
— PÚBLICO

Ficha Técnica

Título Original
CARTAS A UMA DITADURA

Realização
Inês de Medeiros

Produção
Sergio Tréfaut

Autoria
Inês de Medeiros

Música
Anne Vitorino d´Almeida

2006 | Duração 60 minutos

Prémio Melhor Filme Português/Doclisboa 2006, Fipa de Prata/Biarritz 2007, Prémio do Público/Mostra do Cinema de São Paulo 2007, Prémio Femina/Rio de Janeiro 2008.

Inês de Medeiros

Nascida em Viena de Áustria em 1968, muda-se para Portugal em 1975, onde faz todo o seu percurso académico. Reside em Lisboa e tem 50 anos.

Frequentou o Curso Superior de Literatura Portuguesa na Universidade Nova de Lisboa e o curso de Estudos Teatrais na Sorbonne de Paris.

Esteve desde sempre ligada ao cinema e teatro, tendo participado como actriz em inúmeras longas-metragens em Portugal e no estrangeiro, com realizadores como Pedro Costa, João Botelho, Jacques Rivette, Joaquim Pinto, José Fonseca e Costa, entre outros.

Como realizadora, realizou os filmes documentários:
“Le Portugal de Mário de Carvalho Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares e Mia Couto”, em 2015, “Cartas a Uma Ditadura”, em 2008 e realizou ainda “O Fato Completo”, em 2002 e “Senhor Jerónimo”, em 1998, tendo participado e recebido vários prémios em importantes festivais internacionais de cinema.
Actualmente a exercer o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Almada, foi Vice-presidente da Fundação Inatel e diretora do Teatro da Trindade Inatel. Foi igualmente Presidente da Assembleia de Freguesia de Campo de Ourique, no mandato 2013-2017.
É Conselheira no Conselho de Opinião da RTP e Presidente da Assembleia da Academia Portuguesa de Cinema.
Envolveu-se pela primeira vez na política activa em 1995 como Mandatária da Juventude na primeira eleição do Presidente Jorge Sampaio.
Foi também mandatária nacional pelo Partido Socialista nas eleições europeias de 2009.
Entre 2009 e 2016 foi Deputada na Assembleia da República, eleita pelo Partido Socialista pelo Distrito de Lisboa e pelo Distrito de Setúbal, tendo pertencido à Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto; Comissão da Educação, Ciência e Cultura; Comissão de Trabalho e Segurança Social; Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias (suplente); assim como Subcomissão de Ética.
Foi por duas vezes Vice-Presidente da Bancada do Partido Socialista e integrou os grupos interparlamentares de amizade Portugal-França, do qual foi Presidente e Vice-Presidente, e o grupo interparlamentar de amizade Portugal-Japão. Pertenceu sempre ao Conselho de Direção do Canal Parlamento.

Fez parte da delegação parlamentar da OSCE, Organização para a Segurança e Cooperação da Europa.

Irene Flunser Pimentel

Irene Flunser Pimentel

Licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, mestre em História Contemporânea (século XX) e doutorada em História Institucional e Política Contemporânea, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É investigadora doutorada do Instituto de História Contemporânea (FCSH da UNL), tendo coordenado o projecto apoiado pela FCT – PTDC/HIS-HIS/103286/2008. Até 2018, esteve empenhada num processo de investigação, no âmbito bolsa Pós-Doc da FCT, com a referência SFRH/BPD/88519/2012, sobre o processo de Justiça transicional na transição para a democracia em Portugal. Participou, desde 2015, regularmente no programa radiofónico da Antena Um, «Fio da Meada», além de colaborar com a imprensa generalista e científica, bem como tomar parte em diversos documentários televisivos.

É autora e co-autora de mais de 20 livros de carácter historiográfico. Recebeu vários prémios, nomeadamente: História das Organizações Femininas do Estado Novo, prémio Carolina Michaelis, 1999; Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Em Fuga de Hitler e do Holocausto, prémio ex-aequo Adérito Sedas Nunes, atribuído pelo Instituto de Ciências Sociais, 2007; Prémio Pessoa, atribuído pelo Expresso e a Unysis, 2007; A História da PIDE, prémio especial da revista Máxima, 2008; Prémio Seeds of Science, categoria «Ciências Sociais e Humanas», 2009

Rui Bebiano

Rui Bebiano é professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, investigador do Centro de Estudos Sociais e director do Centro de Documentação 25 de Abril. Tem lecionado dezenas de cursos e seminários, tendo também orientado uma centena de teses de doutoramento e mestrado. Na década de 1980 esteve ligado à renovação dos estudos do barroco político e na seguinte ao reconhecimento dos modos de pensar e viver a guerra em Portugal e na Europa entre os séculos XVI e XVIII, área na qual em 1997 fez o seu doutoramento em História Moderna e Contemporânea. A partir de então passou a dedicar-se principalmente à história das ideias políticas e culturais em curso a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Foi dos primeiros historiadores portugueses a ocupar-se do estudo sistemático do movimento estudantil e da Guerra Colonial. Os seus actuais interesses académicos são a história do tempo presente, dos intelectuais e das representações da utopia. Tem centenas de artigos publicados e uma vintena de livros lançados na qualidade de autor ou de coautor, sendo o mais recente Tony Judt – historiador e intelectual público. Colabora desde há décadas, com regularidade, em jornais, revistas e blogues, em particular nos domínios da crítica de livros, da crónica e do artigo de opinião.